Quarta, 24 de Abril de 2024

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Alberto Martins Torres

Alberto Martins Torres
Resumo Biográfico
Nome de Guerra Torres
Patente/Registro 2º Tenente Aviador da Reserva Convocado / BO-384
Nascimento 10/12/1919, Norfolk, Virginia - EUA
Falecimento 30/12/2001, São Paulo (SP) - Brasil
Função Piloto de Combate
Promoções N/D
Condecorações Campanha da Itália, Cruz de Aviação Fita A, Cruz de Aviação Fita B, Campanha Atlântico Sul, Ordem do Mérito Aeronáutico, Duas Distinguished Flying Cross com 04 palmas (EUA), Air Medal com 04 palmas (EUA), Croix de guerre com palma (França) e Presidential Unit Citation (EUA).
Treinamento Panamá, Suffolk e Itália
Família Filho do Dr. Aluízio Martins Torres e D. Maria Helena (Lenita). Torres casou-se pouco tempo depois que regressou da Itália com a jovem Maria Theresa Lima, com quem teve cinco filhos, três varões e duas moças: Alberto e Jorge (falecidos), Henrique, Maria Theresa e Maria Inês, que geraram 09 netos. Um deles, filho da Maria Inês - o Jonas - foi ator de novela da TV Globo dos 7 aos 17 anos. Hoje é piloto civil na Flórida, e foi pára-quedista de elite do exército americano. Tem dupla nacionalidade - seu pai é americano - e mora nos EUA. Junto com Maria Theresa, criou e educou os cinco filhos. Divorciado, casou com uma também jovem senhora - D. Olga Barroso - mãe de três filhos: Maria Isabel, Heloisa e Hugo. O mais velho tinha cinco anos e Torres começou tudo de novo. Junto com Olga, criaram e educaram os três, que nunca o consideraram padrasto. A grande verdade é que foi um pai presente e carinhoso para os oito filhos.

História

Entre as várias atividades civis exercidas no pós-guerra, fundou a empresa de aviação TABA - Transporte Aéreo da Bacia Amazônica - comprou dois aviões, um Catalina e um DC-3 - em que ele praticamente fazia tudo: vendia o bilhete, despachava a bagagem, embarcava o passageiro e assumia o comando da aeronave escalada, decolando-a para o próximo aeroporto de destino. Como esperado, foi seu único empreendimento que não deu certo. Vendeu-a em poucos meses e rematriculou-se na Escola Nacional de Direito, completando o curso anteriormente interrompido; já formado, foi nomeado para chefiar o programa de Agricultura do Ponto 04 - Acordo Brasil x EUA -dirigindo com sucesso setor totalmente diferente de suas atividades anteriores; foi funcionário destacado na empresa Texaco do Brasil SA, como gerente do Departamento de Planejamento e Vendas; durante a campanha eleitoral para presidente da república de Juscelino Kubitschek, foi seu piloto comandante, tendo como co-piloto o veterano do Senta a Pua, Cap.-Av. João Milton Prates. O DC-3 de JK voou cerca de 870 horas, pousando muitas vezes em pistas não autorizadas, que somente os três - incluo JK também - poderiam correr tal risco. Em tempo: durante esse vôos, nunca sofreu um acidente. Sobre o assunto, contou-me em tom de brincadeira que, em termos de perigo, os vôos da Campanha de JK ganharam os que enfrentou na Campanha da Itália; em 1966, implantou no Brasil a multinacional Brink's - Transporte de Valores SA, empresa pioneira nessa atividade no Brasil. A matriz americana deu-lhe plenos poderes para escolher sua equipe. Ele a recrutou entre companheiros da reserva da FAB, nas pessoas de quatro veteranos do Senta a Pua: Joel Miranda, Theobaldo Antonio Kopp, Josino Maia de Assis e José Meira de Vasconcellos. Implantou-a, assumindo a função de superintendente, exercendo-a por mais de um quarto de século, tendo sempre como fiéis escudeiros seus camaradas de guerra; nas comemorações anuais de 6 de outubro - chegada do 1º Grupo de Caça ao Porto de Livorno, Itália, em 1944 - fez parte da comissão dos quatro companheiros organizadores da festa durante os 57 anos em que conviveu conosco; foi o responsável pelo Livro de Ata nº 3, hoje no arquivo histórico dos veteranos, considerado por nós uma obra de arte, onde seu amor pela Unidade é constatado em cada página; escreveu suas memórias no livro Overnight Tapachula, onde o pesquisador que se interessar pelos detalhes sobre como foi criada a reserva aérea da Força Aérea Brasileira, encontrará material de excelente qualidade, sobretudo no que diz respeito aos famosos Asas Brancas, que fizeram cursos na América entre 1941 e meados de 1946; durante seu tempo de Brink's projetou um modelo de carro forte, cujo protótipo foi construído sob sua supervisão e aprovado pela matriz nos EUA; finalmente foi ele o amigo que muito me apoiou e incentivou a escrever o livro Senta a Pua!, tornando-se, antes do lançamento, seu principal revisor.

Ultimamente - entre abril de 97 e setembro de 98 - o cineasta Erik de Castro lançou o filme documentário Senta a Pua!, onde o Torres foi um dos participantes. Seu depoimento comentando o fim da 2a Guerra Mundial na Itália é comovente, verdadeiro e dramático.

Narra com voz embargada, naquele DOIS DE MAIO DE 1945, o momento em que o Comandante da Base Aérea de Pisa anunciou pelo alto-falante:

ATENÇÃO, A GUERRA ACABOU!

(a mensagem foi repetida três vezes)

Nunca o vi tão sério e tão emocionado. Diante das câmeras do Erik, fez grande esforço para segurar as lágrimas - "Senti os cabelos arrepiar atrás do pescoço.. ." e falou nos pais, na irmã Vera, parentes e nos amigos que deixara no Brasil. Seu depoimento é um destaque forte do documentário Senta a Pua!.

Vestiu o uniforme da FAB entre meados de 1941 até o final de 1945 - muito pouco tempo - mas o suficiente para em vida, e agora que se foi, ser reverenciado como herói.

Antes de falecer, o então comandante do 1º Grupo de Aviação
Foram rezadas duas missas em sufrágio de sua alma - em São Paulo, na Igreja da N.S. do Brasil e no Rio de Janeiro, no Salão Nobre do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica - ambas com grande frequência da FAB - pessoal da caça e patrulha - representante do Comandante da Aeronáutica, a família - esposa e filhos - e amigos de todas as gerações. A seu pedido, suas cinzas foram lançadas no mar, nas cercanias do Aeroporto Santos-Dumont, antiga sede do 1º Grupo de Patrulha, a primeira Unidade em que serviu como oficial da FAB.

A urna foi conduzida de São Paulo pessoalmente pelo Comandante do IV COMAR para a Base Aérea de Santa Cruz, que a recebeu com a presença do Comandante, uma Guarda de Honra, todo pessoal do 1º Grupo de Caça, 17 veteranos da Itália, um veterano da 1ª ELO, um representante da FEB, o presidente da Associação Brasileira dos Pilotos de Caça, três pilotos de patrulha, velhas águias dos idos de 1942 (Ivo Gastaldoni, Sergio Schinoor e Gastão Veiga) e representantes de órgãos de comunicação da FAB.

O Buffalo que nos conduziu para o local da cerimônia foi escoltado por dois aviões de patrulha, P-95 - Bandeirulha do 4º/7º GAv. e dois F-5 Tiger supersônicos do atual 1º Grupo de Aviação de Caça. Antes do lançamento das cinzas, os veteranos e presentes saudaram o Torres com um vibrante ADELPHI!, seguido pelo A LA CHASSE!, grito de guerra da atual caça brasileira. Em seguida ao lançamento das cinzas, uma coroa de flores também foi lançada, homenagem do Comandante da Aeronáutica e de seus comandados. Durante os quarenta minutos do vôo, sem que ninguém ordenasse ou pedisse, houve a bordo uma concentração comovente dos participantes. A cerimônia descrita foi realizada no dia 11 de janeiro de 2002.

"Os Veteranos", como dizia L.F.Perdigão - 85 missões de guerra - "os velhos, os da Itália", consideraram sempre esse companheiro como o piloto de caça padrão. E foi. Um ADELPHI! para ele."


Piloto de combate da esquadrilha vermelha, tendo completado 99 missões de guerra. Sua primeira missão foi em 06 Nov 44 e sua última missão em 01 MAI 45. Em 18 Jun 45, partiu de Pisa para os EUA para levar novos aviões P-47 para o Brasil.
"Viveu 82 anos e 20 dias como dono do seu próprio destino. Durante a II Guerra Mundial, foi exemplar piloto da Força Aérea Brasileira. No pós-guerra, voltou à vida civil, exercendo diferentes atividades com eficiência, ajudado por sua natural liderança.

Filho de diplomata deveria pela orientação dos pais, ingressar no ltamaraty, o que não aconteceu. Aos 22 anos, falava e escrevia fluente e corretamente o português, espanhol, inglês, alemão, francês e turco. Durante a Guerra, na Itália, tomou aulas de italiano, acrescentando mais essa língua ao seu currículo. Fez o curso primário em Munique, Alemanha, prosseguindo em Constantinopla, Turquia, o ginásio até o quarto ano. Regressou ao Brasil, completando o 5º ano ginasial no Colégio São Bento. Como estava orientado para ser diplomata, ingressou na Faculdade de Filosofia, onde cursou dois anos, fazendo mais dois na Escola Nacional de Direito, ambas no Rio de Janeiro. O calendário marcava o ano de 1941.

Foi justamente em 1941 que a II Guerra Mundial assumiu de verdade seu caráter global. A máquina militar alemã desde 10 de setembro de 1939 - invasão da Polônia/início da guerra - não parou mais, agredindo e subjugando quase toda Europa. A queda da França, que acontecera em junho de 1940, fora seguida, um ano depois, pela invasão da URSS, em 22 de junho de 1941. Penetrou fundo no território russo, chegando no mesmo ano às portas de Moscou e no ano seguinte, em agosto, cercou Stalingrado. A ofensiva parou ali - início da derrota alemã na frente leste - diante da reação combinada do exército soviético, da vontade de seu povo em defesa da mãe pátria e da cooperação eficaz e decisiva do inverno russo.
Ainda em 1941 - 01 de dezembro - aconteceu o ataque surpresa a Pearl Harbor. A partir desse dia, o mundo se conscientizou de que estava diante da maior guerra jamais testemunhada na história universal - a II Guerra Mundial.

Enquanto isso, nascia no Brasil, também em 1941 - 20 de janeiro - a Força Aérea Brasileira. Mal iniciava sua organização como Força Armada, foi obrigada a preparar-se para o conflito. Entre as inúmeras decisões tomadas pelo Estado-Maior, uma delas foi a de implantar sua Reserva Aérea. Como não havia meios para formá-la aqui, aproveitando acordo recentemente assinado entre o Brasil e os EUA, passou a enviar jovens civis voluntários para serem treinados nas escolas de pilotagem do Exército e da Marinha daquele país. Entre os nomes dos oito primeiros candidatos constava o de Alberto Martins Torres.

Embarcou em um navio cargueiro americano sem escolta, rumo a Nova York, cinco dias após o ataque a Pearl Harbor, com destino final a Randolph Field, Texas, uma das melhores escolas de aviação do exército dos EUA. Disse-nos mais tarde que somente se deu conta do perigo que passou durante os 14 dias de viagem quando, ao desembarcar, encontrou o povo americano mobilizado para a guerra. Sorte dele e daquele cargueiro que atravessaram o Mar das Caraíbas já infestados de submarinos alemães sem serem molestados por esse inimigo mortal. Aliás, a sorte do Torres foi uma constante em toda sua vida. Mas sorte, segundo a palavra dos grandes ases da II Guerra Mundial, quem não a tivesse viveria pouco. Em meu livro Senta Pua!, apreciando a brilhante atuação do Torres na Itália, escrevi: "Não houve uma boa missão do 1º Grupo de Caça da qual ele não tivesse participado". E concluo: "era bom demais como piloto, contudo tinha um bocado de sorte". (O livro foi editado em abril de 1979).

Aquela viagem acabou com o sonho de Dr. Aluízio e D. Lenita de verem o filho diplomata. A decisão de se tomar piloto foi dele. Dez meses depois de intenso treinamento em Randolph Field, recebeu o diploma de piloto e a "Silver Wing" da Força Aérea do exército dos EUA. Foi declarado Aspirante Aviador em 08.10.1942. Com o curso de instrutor de vôo, deveria, no Brasil, ser designado para servir no C.P.O.R. da Aeronáutica. A essa altura, o Brasil já havia declarado guerra aos países do Eixo: Alemanha, Itália e Japão. Torres foi servir no 1º Grupo de Patrulha, Unidade de Combate sediada no Calabouço - o Aeroporto Santos-Dumont - equipada com Lockheed Hudson A-28 e Consolidated. Realizou na Base Aeronaval da Marinha dos EUA, em Aratú, Bahia, um estágio operacional, tornando-se apto a cumprir missões de patrulha e cobertura de comboio como Comandante das duas aeronaves. Esse fato marca o começo do brilho da estrela do futuro herói da FAB como combatente da II Guerra Mundial nas campanhas do Atlântico Sul e nos céus da Itália.

Cumpriu na Unidade 64 missões de guerra como patrulheiro. Em uma delas, comandando um Catalina no dia 31 de julho de 1943, atacou o submarino alemão U-199 a 87 km ao Sul do Pão-de-Açúcar. No primeiro passe, suas três bombas de profundidade puseram o U-199 a pique. Sobraram da batalha 12 alemães - o comandante, mais três oficiais e oito marinheiros - que se debatiam n'água no local. Torres lançou um bote de borracha inflável, logo ocupado pelos náufragos que, salvos, lhes acenaram como um agradecimento. O Catalina deu cobertura aos náufragos até a chegada de um destróier americano o USS-Barnegat, que os recolheu como prisioneiros de guerra ao campo de concentração - o único existente no Brasil - localizado em Recife.

Foi ele também o único piloto brasileiro que comprovadamente afundou um submarino alemão. Pelo feito, recebeu do governo dos EUA a D.F.C. - Distinguished Flying Cross (Cruz de Bravura). Em princípio de 1944 deixou o 1º Grupo de Patrulha, seguindo como voluntário para servir no 1º Grupo de Aviação de Caça, que iria combater na Itália. Voou na Unidade 99 missões de guerra ofensivas e uma defensiva - cobertura de um jogo amistoso de futebol entre combatentes da FEB e do VIII Exército inglês, realizado em Florença - completando um total de 100 missões. Em uma delas, foi condecorado com outra D.F.C. - Distinguished Flying Cross. Recebeu ainda dos EUA, a Air Medal com cinco estrelas, valendo cada estrela como mais uma medalha. Da França, recebeu a La Croix de Guerre Avec Palme e finalmente no Brasil foi agraciado com a Cruz de Aviação Fita A, Cruz de Aviação Fita B, Campanha da Itália e Campanha do Atlântico Sul.

Após suas andanças pelo exterior como filho de diplomata, com 15 anos veio morar no Rio de Janeiro, na Rua Montenegro (hoje Rua Vinicius de Moraes), em Ipanema. Se Vinicius e Tom Jobim o tivessem conhecido na época, certamente o elegeriam como Garoto de Ipanema. Na praia de Ipanema enturmou-se com os anfíbios do bairro, que desafiavam as ondas durante as ressacas, deslizando sobre elas até a areia, em perfeitos jacarés - jacaré é um sáurio anfíbio. Naquele tempo não havia pranchas nem surfistas. A prancha era o corpo do próprio e Torres o usava com muita competência. Em seu livro de memórias Overnight Tapachula, declara orgulhosamente que durante sua vida somente perdeu contato com os esportes aquáticos, durante os cinco anos em que fez o primário em Munique. No Rio, dividia a praia com o late Clube (em Botafogo), onde velejava em seu barco classe Star. Com ele, disputou provas no Brasil e no exterior. Quando mudou-se com a Brink's para São Paulo, continuou velejando durante os fins de semana na Represa de Guarapiranga, em seu barco Trinta Reis, também da classe Star.

No final da II Guerra Mundial, regressou ao Brasil voando um P-47 Thunderbolt. Decolaram 19 aviões de Kelly Field, Texas, sob a liderança do Ten.-Cel.-Av. Nero Moura - nosso líder e comandante durante a Campanha da Itália - rumo ao Rio de Janeiro. O 1º Grupo de Caça aterrissou no Campo dos Afonsos, sendo recebido pelo presidente Getúlio Vargas, em cerimônia solene, no dia 16 de julho de 1945.

Texto escrito por Rui Moreira Lima - Piloto Veterano do 1º GAvCa.